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A Polícia Federal (PF) concluiu o inquérito da chamada “Abin paralela” e pediu o indiciamento de mais de 30 pessoas, entre elas o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), o vereador Carlos Bolsonaro (PL-RJ) e o deputado federal Alexandre Ramagem (PL-RJ). O documento foi enviado nesta terça-feira (17/06) ao Supremo Tribunal Federal (STF). As investigações apontam o uso ilegal da Agência Brasileira de Inteligência (Abin) para monitorar, sem autorização judicial, ministros do STF, políticos, jornalistas e outras pessoas vistas como adversárias do governo Bolsonaro.
O monitoramento era realizado com o uso do software FirstMile, que permite a geolocalização de celulares e computadores. Segundo a PF, o sistema foi utilizado cerca de 60 mil vezes entre 2019 e 2023, com maior volume em 2020, ano das eleições municipais. A ferramenta foi comprada e utilizada pela Abin na gestão de Ramagem, então diretor da agência. Durante esse período, a Abin também teria produzido relatórios para ajudar na defesa do senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ), investigado pelo caso das “rachadinhas” em seu gabinete na Assembleia Legislativa do Rio.
Entre os alvos do esquema estariam o ministro Alexandre de Moraes e o ministro Gilmar Mendes, ambos do STF; o ex-presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia; e o ex-ministro da Educação, Camilo Santana, à época governador do Ceará. A lista inclui ainda jornalistas que atuavam na cobertura política durante o governo Bolsonaro.
A Operação Última Milha, deflagrada pela PF em outubro de 2023, teve como base o uso indevido do FirstMile. Em janeiro de 2025, a polícia realizou buscas em endereços ligados a Carlos Bolsonaro. Nessa fase, os agentes identificaram quatro núcleos que operavam o esquema de espionagem. Foram alvos a assessora do vereador, Luciana Almeida, e a assessora de Ramagem, Priscilla Pereira e Silva. Ambas atuavam como ponte na troca de informações de interesse da família Bolsonaro, de acordo com os investigadores.
Mensagens obtidas pela PF mostram que Luciana pediu diretamente a Ramagem o acesso a inquéritos sigilosos envolvendo membros da família do ex-presidente. Além disso, o deputado teria, a pedido de Carlos, monitorado inquéritos eleitorais em andamento na PF do Rio de Janeiro contra adversários políticos do vereador.