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Em depoimento ao Supremo Tribunal Federal (STF) nesta terça-feira (10/06), o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) pediu desculpas ao ministro Alexandre de Moraes por ter acusado ele e outros integrantes da Corte de receberem milhões de dólares para prejudicar seu governo. A declaração foi feita durante uma reunião ministerial em 5 de julho de 2022, cuja gravação foi encontrada pela Polícia Federal (PF) no computador do ex-ajudante de ordens de Bolsonaro, tenente-coronel Mauro Cid. A gravação é uma das provas utilizadas pela PF na investigação que levou à denúncia da Procuradoria-Geral da República (PGR) sobre uma suposta organização criminosa voltada a tentar um golpe de Estado. No depoimento, Moraes questionou Bolsonaro sobre os valores citados — US$ 50 milhões e US$ 30 milhões — e os indícios que teria para fazer tal acusação. Bolsonaro respondeu: “Não tem indícios nenhum, senhor ministro. Tanto é que era uma reunião para não ser gravada. Um desabafo, uma retórica que eu usei. Se fosse outros três ocupando teria falado a mesma coisa. Então, me desculpe, não tinha qualquer intenção de acusar de qualquer desvio de conduta os senhores três”.
Durante o depoimento, Jair Bolsonaro também afirmou que nunca se falou, de forma oficial, em golpe de Estado durante seu mandato. Segundo ele, qualquer associação entre seu governo e tentativa de ruptura democrática é infundada. O ex-presidente argumentou que sua conduta sempre foi transparente e que, ao deixar o Brasil após as eleições, não teve envolvimento com qualquer mobilização. “Falar em golpe de Estado, desta forma que se tratou aqui… Especialmente depois do meu governo, quando estava fora do Brasil, sem qualquer participação minha, sem qualquer liderança, sem Forças Armadas, sem arma, sem um núcleo financeiro… Isso não é golpe”, disse Bolsonaro ao ministro relator Alexandre de Moraes.
Bolsonaro negou ainda ter redigido, editado ou autorizado qualquer minuta de decreto que tivesse como objetivo anular o resultado das eleições de 2022. O ministro Moraes questionou especificamente sobre o suposto envolvimento do ex-assessor especial da Presidência Felipe Martins, mas o ex-presidente negou qualquer participação do aliado. “Não existiu isso aí. Ele não tem competência para isso.” Bolsonaro ainda afirmou que a ideia chegou a ser mencionada brevemente, mas sem qualquer avanço ou formalização. “Isso foi colocado em uma televisão e mostrado de forma rápida. A discussão sobre esse assunto foi feita em minutos. Existia uma ideia de estado de sítio. Primeiramente, precisaríamos ter um fato; depois, os conselhos da defesa, coisa que não foi feita”, completou.
Em tom mais descontraído, Bolsonaro chegou a fazer uma brincadeira durante a oitiva, ao convidar Alexandre de Moraes para ser seu vice nas eleições presidenciais de 2026. O ministro respondeu com bom humor: “Eu declino”. Em seguida, o ex-presidente retomou uma de suas principais pautas políticas e voltou a levantar dúvidas sobre a segurança das urnas eletrônicas, defendendo a adoção do voto impresso. Moraes rebateu imediatamente, afirmando que a investigação em questão “não tem nada a ver com urna eletrônica”, deixando claro que esse não era o foco do inquérito em andamento.
Ao final da sessão, Bolsonaro negou ter incentivado qualquer tipo de movimentação que tenha levado aos ataques de 8 de janeiro de 2023, quando apoiadores do ex-presidente invadiram e depredaram as sedes dos Três Poderes, em Brasília. De acordo com ele, mesmo sem seu apoio, existem “malucos” que pedem por medidas autoritárias, como o retorno do AI-5 ou uma intervenção militar. “Tem os malucos que ficam com essa ideia de AI-5, de intervenção militar das Forças Armadas… que os chefes das Forças Armadas jamais iam embarcar nessa só porque o pessoal estava pedindo ali”, declarou.