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O governo da Venezuela fez duras acusações contra o Ministério das Relações Exteriores do Brasil, afirmando que o país estaria manipulando a comunidade internacional ao se “fazer de vítima” na crise entre as duas nações. Em um comunicado oficial, o governo venezuelano, liderado por Nicolás Maduro, alegou que o Itamaraty tenta “enganar a comunidade internacional”, distorcendo fatos e sugerindo que o Brasil age como algoz enquanto se apresenta como vítima.
A tensão entre os dois países não é recente e se intensificou nas eleições presidenciais venezuelanas, quando o conselho eleitoral do país declarou a vitória de Nicolás Maduro. No entanto, o Brasil não reconheceu o resultado devido a alegações de irregularidades e falta de transparência no processo, decisão essa que gerou descontentamento no governo bolivariano.
Acusações de “campanha sistemática”
O comunicado venezuelano também acusa o Itamaraty de violar princípios fundamentais da Carta das Nações Unidas, especialmente aqueles que defendem a soberania e autodeterminação dos povos. Segundo a nota, o Brasil teria violado até mesmo sua própria constituição ao interferir em assuntos internos da Venezuela. Para o governo de Maduro, o Itamaraty promove uma “campanha sistemática” de agressão contra o governo e instituições venezuelanas, desrespeitando a decisão soberana do país.
Escalada das Tensas Relações
Na última quinta-feira (31/10), a crise ganhou um novo capítulo quando a Polícia Nacional da Venezuela publicou uma mensagem indireta nas redes sociais direcionada ao governo brasileiro. O post, que rapidamente chamou atenção, incluía a frase “Quem se mete com a Venezuela se dá mal”, acompanhada de uma imagem desfocada do presidente Luiz Inácio Lula da Silva e a bandeira do Brasil. A postagem foi removida posteriormente, mas o gesto já havia causado forte reação do Itamaraty, que no dia seguinte divulgou uma nota em resposta à provocação.
Resposta do Itamaraty e o Acordo de Barbados
Em sua resposta, o Itamaraty expressou surpresa com a mensagem vinda de um órgão venezuelano, considerando a publicação ofensiva aos símbolos nacionais do Brasil. O ministério aproveitou para citar o Acordo de Barbados, um pacto que previa respeito ao processo eleitoral na Venezuela, do qual o Brasil foi testemunha. Segundo o Itamaraty, o governo venezuelano violou o acordo durante as eleições de julho, o que reforça a posição brasileira de não reconhecimento do resultado eleitoral de Maduro.
O comunicado venezuelano, publicado neste sábado (2/11), marca mais um episódio de uma relação diplomática conturbada, onde ambas as partes se acusam de interferências e falta de respeito aos acordos internacionais. Observadores veem na escalada das trocas de acusações um reflexo das tensões ideológicas que permeiam a política externa de ambos os países.