Ouça este conteúdo
Luckas Viana dos Santos, de 31 anos, morava na Tailândia quando foi atraído por uma oferta de emprego promissora na área de tecnologia. Contudo, ao embarcar para a nova oportunidade, algo parecia errado. A viagem, que deveria ser rápida, se estendeu mais do que o esperado e logo ele se viu em uma situação de pesadelo.
Desconfiado, Luckas começou a perceber que estava sendo levado para um destino muito diferente do planejado. Antes que a situação se agravasse, ele compartilhou sua localização com um amigo brasileiro e começou a enviar mensagens de atualização. A cada novo deslocamento, mais claro ficava que ele estava longe da suposta vaga de emprego. “Passei pela fronteira, entrei numa selva, peguei um barco e agora preciso esperar mais um carro. Algo está errado”, alertou, sentindo-se cada vez mais inseguro.
Luckas disse ao amigo em mensagens desesperadas que teve seu celular confiscado, e estava vivendo em um lugar horrível, sem água, sendo torturado e forçado a trabalhar mais de 15 horas por dia. Ele ainda recebia ameaças de morte e advertências de que seus órgãos poderiam ser vendidos. Além disso, Luckas revelou que foi forçado a “aplicar golpes” em estrangeiros por meio de aplicativos de mensagem, uma prática cruel que fazia parte da operação de exploração em que estava preso.
A tragédia se agravou quando Phelipe de Moura Ferreira, de 26 anos, também paulista, caiu na mesma armadilha após receber uma proposta similar e foi levado para Myanmar. Phelipe, dado como desaparecido até dezembro, passou a enviar mensagens secretas para a família, que tomou ciência de que ele e Luckas estavam no mesmo lugar.
O pai de Phelipe, Antônio Carlos, se diz impotente. Em um desabafo, ele relatou a dificuldade de obter informações sobre o que está sendo feito para resgatar seu filho e a angústia de não saber se alguma ação está sendo tomada pelas autoridades brasileiras e locais.
Familiares ainda receberam informações de que Luckas estava sendo torturado após os chefes, que eles dizem ser chineses, terem descoberto seus pedidos de ajuda.
O portal UOL teve acesso a algumas mensagens trocadas entre Phelipe e sua família:
Em mensagens mais recentes o jovem disse que suspeita que serão vendidos em breve.
Após repercussão da história, Itamaraty informou que acionou autoridades locais e que informações sobre os brasileiros também foram repassadas à Interpol (Organização Internacional de Polícia Criminal).
No entanto, o portal oficial do Ministério das Relações Exteriores esclareceu que as competências das embaixadas e das Repartições Consulares no exterior “são definidas por tratados internacionais, pela lei brasileira e pela lei local”. Essas regras impedem que os órgãos nacionais “interfiram para libertar cidadãos brasileiros detidos” em outros países, o que limita a ação direta do governo brasileiro na situação.