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28 de Outubro de 2024, 08h:00 - A | A

PODERES / RESPOSTA DA CIDADE

Vitória de Fuad Noman em BH é um recado ao radicalismo e às fake news

Com uma mobilização eficaz e o apoio de figuras políticas, Noman se firmou como a escolha da população que busca um governo moderado e estável

SABRINA SILVA
REDAÇÃO G5



O prefeito de Belo Horizonte, Fuad Noman (PSD), foi reeleito com uma expressiva margem de 53,73% dos votos válidos no último domingo (27), consolidando sua posição como um forte opositor ao radicalismo político e às campanhas de desinformação que marcaram a reta final da eleição. Com 670.574 votos, Fuad superou seu adversário Bruno Engler (PL), que recebeu 577.537 votos (46,27%), enquanto 46.236 eleitores votaram em branco e 61.885 anularam seus votos. O total de abstenções foi alarmante, alcançando 636.752, o que representa 31,95% do eleitorado.

A disputa entre os dois candidatos, que se intensificou após a primeira etapa, culminou numa virada histórica no segundo turno, onde Noman conquistou a maioria dos votos em todas as zonas eleitorais de BH. A vitória mais expressiva foi na 28ª zona eleitoral, na Região Leste, onde o prefeito reeleito obteve 57,32% dos votos. Já a menor diferença foi registrada na 34ª zona eleitoral, que compreende bairros da Região Centro-Sul, com Noman alcançando 50,32% dos votos contra 49,68% de Engler.

A reeleição de Fuad Noman é um claro indicativo de que a população de Belo Horizonte não tolerou as táticas de desinformação que circularam durante a campanha, especialmente as alegações da campanha de Engler, que foi marcada por acusações polêmicas, baseadas em informações descontextualizadas que envolviam uma obra literária escrita por Noman, o livro “Cobiça”. Em peças publicitárias, a equipe de Engler sugeriu que o conteúdo do livro fazia apologia a crimes sexuais, uma interpretação condenada pela Justiça Eleitoral, que julgou a ação como tentativa de desinformação. Em resposta, a Justiça concedeu direito de resposta a Noman, com 26 inserções obrigatórias de até 1 minuto na televisão e no rádio, veiculadas até a noite do sábado anterior à votação.

O juiz Adriano Zocche destacou que a propaganda de Engler desvirtuava o conteúdo do livro, tratando-o de maneira sensacionalista e inadequada. A decisão reforçou que a obra de Noman é uma ficção e que suas descrições literárias, embora fortes, não incentivam ou defendem práticas criminosas, mas ilustram contextos fictícios. Além disso, o deputado Nikolas Ferreira, apoiador de Engler, divulgou nas redes sociais um vídeo com alegações falsas sobre Noman, o que levou à remoção do conteúdo e à aplicação de multas por descumprimento.

No primeiro turno, Fuad havia ficado em segundo lugar, recebendo apenas 336.442 votos (26,54%) contra os 435.853 (34,38%) de Engler. Contudo, as pesquisas de opinião realizadas pelas instituições Quaest e Datafolha indicavam uma recuperação notável de Noman, que, já no dia 26 de outubro, apresentava 52% e 53% dos votos válidos, respectivamente. A virada de Noman foi significativa e evidenciou uma mobilização efetiva da campanha, que contou com o apoio de figuras políticas importantes, assim como a intervenção da justiça para que pudesse dar o direito de resposta em relação às fakes news, inclusive estendendo a campanha eleitoral até sábado (26).

A virada refletiu o crescimento da adesão de eleitores insatisfeitos com a linha radical adotada pela campanha de Engler, candidato do PL, que contava com o apoio do governador Romeu Zema e de lideranças como o deputado federal Nikolas Ferreira (PL-MG). Em resposta ao estilo polarizado do adversário, a candidatura de Noman se alinhou a um espectro político moderado, atraindo o apoio de ex-candidatos como Duda Salabert (PDT) e Rogério Correia (PT), bem como de partidos como PSOL e Rede.

Aos 77 anos, Noman acumula uma trajetória sólida na vida pública, marcada por experiência em finanças e gestão. Economista de formação, ele já ocupou cargos de peso, como diretor do Banco do Brasil e secretário estadual da Fazenda e de Transportes e Obras Públicas de Minas Gerais, além de ter sido secretário-executivo da Casa Civil da Presidência da República e secretário municipal da Fazenda de Belo Horizonte. Noman assumiu a prefeitura em março de 2022, após a renúncia de Alexandre Kalil para concorrer ao governo de Minas Gerais.

Em julho deste ano, Noman revelou que estava em tratamento contra um linfoma não Hodgkin (LNH), tipo de câncer que afeta o sistema linfático, e recentemente recebeu alta médica. Essa batalha pessoal, que enfrentou com determinação, somou à sua campanha uma camada de resiliência, fortalecendo a conexão com os eleitores que viam em Noman um líder comprometido tanto com a cidade quanto com seus próprios desafios pessoais.

Ao lado do vice-prefeito Álvaro Damião (União Brasil), jornalista e vereador reeleito com ampla experiência na área de comunicação, Noman tem pela frente um mandato que carrega as expectativas de uma gestão focada na continuidade e na estabilidade. A vitória na capital mineira também funciona como uma resposta simbólica contra as táticas de desinformação, mostrando que a população de BH escolheu a moderação e a experiência sobre discursos polarizadores e manipuladores.

Essa eleição mostrou que, em Belo Horizonte, a política pautada por fake news e ataques pessoais encontrou uma barreira nos eleitores, que optaram pela continuidade de uma gestão moderada e aberta ao diálogo. “Vamos trabalhar mais quatro anos para fazer de BH uma cidade melhor para todos”, afirmou Fuad em suas redes sociais após a reeleição.

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