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Durante uma reunião bilateral nesta quarta-feira (21/05), na Casa Branca, o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, confrontou o presidente sul-africano, Cyril Ramaphosa, com alegações infundadas sobre um suposto “genocídio branco” na África do Sul. O encontro, marcado inicialmente para tratar de comércio e cooperação econômica, rapidamente se transformou em um momento de tensão diplomática quando Trump apagou as luzes do Salão Oval para exibir um vídeo que, segundo ele, comprovaria as denúncias de perseguição contra a minoria branca africâner. Ramaphosa refutou de maneira contundente as acusações, ressaltando que a violência em seu país atinge, sobretudo, a população negra, e ironizou: “Se houvesse genocídio contra os africâneres na África do Sul, garanto que esses senhores não estariam comigo aqui hoje”, referindo-se aos membros brancos da sua própria delegação.
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O episódio ganhou destaque imediato na imprensa internacional, pois Ramaphosa é o primeiro líder africano e negro a visitar a Casa Branca neste segundo mandato de Trump. A tentativa do presidente americano de enquadrar a política sul-africana através de acusações infundadas surpreendeu diplomatas e observadores. Na ocasião, Ramaphosa reforçou que não há perseguição oficial contra agricultores brancos, e destacou a pluralidade política do seu país: “O que você viu, as falas que são feitas, não são política do governo. Temos uma democracia multipartidária na África do Sul. Nosso governo é completamente contrário ao que esse partido minoritário diz”, afirmou. O político africâner John Steenhuisen, ministro da Agricultura e também presente na reunião, apoiou a posição de Ramaphosa ao destacar que sustenta o governo no Parlamento justamente para impedir que extremistas assumam o poder.
Os africâneres, mencionados por Trump, são descendentes de colonizadores europeus e constituem a minoria branca da África do Sul, com um passado marcado pela imposição do apartheid — um regime de segregação racial que vigorou de 1948 até 1994. A acusação de genocídio branco, disseminada sem provas por Trump, se apoia em um movimento internacional que busca deslegitimar reformas agrárias e processos de reparação histórica. Durante a reunião, o presidente americano alegou ter visto “milhares de histórias” sobre o suposto genocídio, e insistiu: “Temos documentários, temos notícias, e posso te mostrar algumas coisas”. Em seguida, determinou que as luzes fossem apagadas e exibiu um vídeo com falas de políticos negros incitando violência contra brancos, além de imagens de supostos túmulos de agricultores africâneres mortos por criminosos negros.
Apesar da tentativa de Trump de constranger o presidente sul-africano, Ramaphosa manteve a postura firme e, por diversas vezes, tentou redirecionar o diálogo para temas de cooperação econômica e comércio internacional, especialmente a participação dos Estados Unidos no G20, cuja cúpula ocorrerá em Joanesburgo ainda este ano. No entanto, Trump persistiu nas acusações, declarando que agricultores brancos estariam fugindo da África do Sul. Ramaphosa tentou minimizar a escalada da tensão, afirmando: “Estamos dispostos a discutir essas preocupações com o senhor”, mas não conseguiu mudar o rumo da conversa. O encontro foi amplamente descrito pela imprensa americana como uma emboscada e mais um exemplo da chamada “diplomacia do bullying” adotada por Trump, comparável à reunião que o republicano teve com o presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, em fevereiro, quando também houve troca de acusações ríspidas.
Outro ponto que acirrou o tom da reunião foi quando Ramaphosa ironizou Trump sobre o recente escândalo envolvendo um jato de luxo que o governo americano aceitou como presente do Qatar. “Sinto muito, não tenho um avião para te dar”, provocou o presidente sul-africano. Trump respondeu com sarcasmo: “Eu gostaria que você tivesse. Se seu país oferecesse um avião à Força Aérea dos EUA, eu aceitaria”. Por trás das alegações infundadas de genocídio feitas por Trump está a aprovação, pelo governo sul-africano, de uma lei que prevê a desapropriação de terras para reduzir desigualdades. Embora os brancos sejam apenas 7% da população, ainda controlam 72% das terras agrícolas. Para Ramaphosa, a medida corrige uma injustiça histórica, mas, para Trump, seria “racista”, já que, segundo ele, atinge principalmente proprietários brancos. A disseminação das alegações de genocídio branco conta ainda com o apoio do bilionário Elon Musk, sul-africano de nascimento e aliado próximo de Trump, que vem amplificando a narrativa por meio de publicações em sua conta no X.