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Durante o ato pró-anistia realizado na Avenida Paulista no último fim de semana, Jair Bolsonaro e Michelle Bolsonaro surpreenderam ao convidar o pai de santo Sérgio Pina, conhecido por ser o guia espiritual da cantora Anitta, para subir no trio elétrico. O movimento chamou atenção não só pela presença de um representante de religião de matriz africana, mas também pela diferença em relação às posturas adotadas durante o governo. Isso porque, ao longo dos quatro anos no Planalto, Bolsonaro manteve um discurso alinhado ao conservadorismo evangélico, sem qualquer aproximação com tradições religiosas afro-brasileiras.
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Michelle Bolsonaro, por sua vez, é integrante ativa de uma igreja evangélica, cuja doutrina, historicamente, carrega tensões com religiões como a umbanda e o candomblé. A presença do pai de santo no ato, portanto, levantou questionamentos nas redes sociais. Internautas apontaram que o casal, que nunca demonstrou abertura para o diálogo inter-religioso enquanto esteve no poder, agora parece adotar uma postura mais conciliadora. Muitos especulam que essa mudança faz parte de uma tentativa de ampliar o eleitorado, já pensando nas eleições de 2026. Outros acreditam que se trata de uma reação à pressão jurídica crescente sobre o ex-presidente.
Ao longo do governo, nunca houve acenos para além da base evangélica, muito pelo contrário. O discurso sempre foi voltado ao reforço da identidade cristã e à crítica a outras práticas religiosas, principalmente as de matriz africana. Por isso, o gesto de agora chama atenção. Afinal, existe uma dissidência doutrinária clara entre os princípios seguidos pela igreja de Michelle e os fundamentos do culto afro-brasileiro. Alguns observam que esse aceno não representa necessariamente uma mudança de pensamento, mas sim um movimento calculado diante de um cenário político desfavorável.
Outro ponto que gerou repercussão é que há rumores de que Sérgio Pina pode se candidatar a algum cargo político futuramente, o que também levanta suspeitas sobre os reais motivos do convite. Essa aproximação, ao que tudo indica, busca garantir votos de um segmento religioso até então ignorado pelo bolsonarismo. Além disso, Michelle Bolsonaro parece tentar assumir um papel mais conciliador e tolerante, mesmo contrariando os preceitos da igreja que frequenta. Diante desse novo cenário, em que alianças improváveis passam a compor o tabuleiro, fica a pergunta: vale tudo na política?