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A China está sinalizando uma mudança importante em sua política comercial ao aumentar suas compras de soja do Brasil e diminuir sua dependência dos Estados Unidos. Na semana encerrada em 17 de abril, o país asiático comprou apenas 1.800 toneladas de soja dos EUA, uma queda significativa em comparação com as 72.800 toneladas adquiridas na semana anterior. Em contrapartida, os portos chineses estão recebendo volumes recordes de soja brasileira. Em abril, 40 navios descarregaram soja brasileira no terminal de Ningbo-Zhoushan, o que representa um aumento de 48% no número de embarcações, se comparado ao mesmo período do ano anterior. Ao todo, o volume de soja brasileira que chegou à China neste mês é de cerca de 700 mil toneladas, um crescimento de 32% em relação a abril de 2024.
A mudança foi notada após a publicação de um vídeo pelo perfil Yuyuan Tan Tian, da mídia estatal CCTV, mostrando diversos navios descarregando soja no porto de Ningbo-Zhoushan. “Depois que a China reduziu as compras dos Estados Unidos, navios com soja brasileira começaram a chegar um atrás do outro”, disse o canal da plataforma Weibo, destacando a intensificação das importações de soja brasileira. A sinalização de que o país está conseguindo suprir sua demanda com o Brasil vem com um discurso político mais forte. Zhao Chenxin, vice-diretor da Comissão Nacional de Desenvolvimento e Reforma da China, afirmou recentemente que “não haverá muito impacto no fornecimento de grãos de nosso país, mesmo que não compremos grãos e oleaginosas dos Estados Unidos”. Essa declaração reforça o plano da China de diversificar suas fontes de abastecimento.
Essa mudança ocorre em um contexto de crescente tensão entre os EUA e a China, especialmente após a implementação de tarifas que afetaram as importações de produtos manufaturados chineses para os Estados Unidos. A redução nas compras de soja dos EUA não é recente. Em 2016, a China comprava 40% da sua soja dos Estados Unidos. Em 2023, esse número caiu para 18%, enquanto as importações brasileiras aumentaram de 17% para 25% no mesmo período. A diminuição da participação dos produtos agrícolas americanos nas compras da China tem sido um reflexo de uma estratégia mais ampla para reduzir a dependência do mercado americano, especialmente nos setores agrícolas e energéticos.
O impacto disso pode ser grande para os agricultores americanos. Em 2023, os EUA exportaram US$ 33 bilhões em produtos agrícolas para a China, além de outros US$ 15 bilhões em petróleo, gás e carvão. A perda do mercado chinês representaria uma grande perda econômica para os Estados Unidos, principalmente para os setores de soja e outros produtos agrícolas. Enquanto isso, o Brasil se beneficia diretamente dessa mudança, com a expectativa de que as importações de grãos vindos de países como Brasil, Argentina e Uruguai possam atingir mais de 30 milhões de toneladas entre abril e junho deste ano. Esses números indicam que o Brasil está cada vez mais consolidado como fornecedor-chave para a China.
Zhao Chenxin, em entrevista, também ressaltou a confiança do governo chinês na capacidade de manter o crescimento econômico. A projeção para o PIB chinês em 2025 é de cerca de 5%, o que, segundo o governo, será alcançado com base em um desenvolvimento interno mais robusto e um foco menor na dependência de importações dos Estados Unidos. Com isso, a China busca garantir sua segurança alimentar e energética de forma mais autônoma, enquanto fortalece suas relações comerciais com outros países produtores, como o Brasil.