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Em Morro Vermelho, um distrito colonial de Caeté, na Região Metropolitana de Belo Horizonte, uma tradição de mais de 200 anos marca o início de Quaresma. Na quarta-feira de cinzas, a imagem de Cristo com o corpo ensanguentado, conhecido como Nosso Senhor dos Passos , recebe um “banho de cachaça” em uma cerimônia única e secreta. Esse ritual, realizado por um grupo de homens da comunidade, mistura devoção e tradição, com a aguardente escorrendo lentamente sobre a escultura de cedro, mantendo viva uma prática ancestral que atravessa gerações.
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O banho de cachaça, realizado com uma garrafa da bebida, visa proteger a imagem da deterioração e prevenir o ataque de cupins. A escultura, com mais de 200 anos, é respeitosamente retirada do altar da Igreja Nossa Senhora de Nazaré, despida e banhada com aguardente. Durante o ritual, o cheiro marcante da bebida toma conta do ambiente e os participantes, em silêncio, executam a cerimônia com reverência. Após o banho, a cachaça que escorre da imagem é recolhida e, segundo a sabedoria popular, usada para curar feridas e ajudar os enfermos.
A tradição do Morro Vermelho é uma das mais emblemáticas de Minas Gerais, com grande significado para a comunidade local. A cada ano, o ritual acontece com a presença exclusivamente masculina, respeitando a regra que proíbe a participação de menores de 18 anos. O distrito, com cerca de 800 habitantes, mantém vivas suas tradições seculares e é um exemplo de como a religiosidade e o respeito pelas práticas ancestrais são preservadas.
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Além disso, uma das tradições que envolve a imagem é a sua implantação para as casas dos fiéis da região. A imagem de Nosso Senhor dos Passos visita as comunidades vizinhas de Caeté, Barão de Cocais, Raposos, Sabará e Santa Bárbara, sendo transportada em uma charola e frequentemente passando a noite nas casas dos devotos. Em cada residência, a presença da imagem marca um momento de oração e vitórias.
Em 2013, pela primeira vez em 200 anos, o ritual teve um marco importante: mulheres puderam presenciar alguns momentos do banho da imagem, algo que nunca havia acontecido antes. Essa mudança foi registrada como parte do projeto “Ritos da Quaresma e Semana Santa”, promovido pelo Instituto Estadual do Patrimônio Histórico e Artístico de Minas Gerais (Iepha). O projeto teve como objetivo documentar e preservar as tradições da Semana Santa na região, dando um novo olhar sobre a história e a devoção popular.
